O PRIMEIRO PASSO DO MOVIMENTO DE CORRIDAS DE RUA NO BRASIL
Por: Eleonora Mendonça
Background
Em 1974, após dois anos competindo em pista, estabelecendo recordes brasileiros de 1.500 m. e 3.000 m. fui para os EUA numa época em que o movimento de corridas de rua estava crescendo. Aos poucos, troquei a sapatilha pelo tênis de corrida. Em várias distâncias estabeleci uma liderança entre as atletas locais, regionais e nacionais. Através das competições, despertei um grande interesse nas organizações de corridas, acompanhando de perto a evolução do esporte – o crescimento do nível técnico dos atletas e da logística na preparação e realização das corridas.
Realidade
Ao retornar ao Brasil para participar da Corrida de São Silvestre em 1976 – a segunda edição feminina da prova - percebi que havia poucas corridas abertas ao publico. Comentei com colegas, amigos e familiares que o país, com um clima tropical, uma população cuidando de seu bem estar, de sua aparência, tinha tudo para aderir a esta atividade tão saudável e natural.
Idealização
Nas vésperas da minha viagem ao Brasil para a São Silvestre de 1977, tomei ciência que um jornalista e adepto de corrida, Yllen Kerr, iria realizar, no dia 31 de Dezembro, uma Corrida de Veteranos (homens acima de 40 e aberto as mulheres) no Hotel Nacional ao Leme – 12 km. De longe, aplaudi esta iniciativa que de muito espelhava meu sonho. Solicitei a New Balance alguns sapatos e roupas para levar para premiação. A corrida foi um sucesso e pela primeira vez a premiação ofereceu material de corrida. Yllen, Paulo Cesar e eu nos reunimos, reconhecemos que o momento era agora e decidimos realizar uma corrida aberta a todos – atletas e adeptos do Cooper - e que seria a primeira de muitas. Esta idealização e realização teria o nome de PRINTER, Promoções Internacionais.
Divulgação
Escolhemos um domingo em Julho, nas férias escolares e quando a temperatura no Rio estaria mais amena para esta prova. Investimos em um folheto de divulgação da corrida e ficha de inscrição. Além do nosso escritório, em Laranjeiras, conseguimos que as Óticas Roxy (amigos), em Copacabana recebessem as inscrições, como também o Clube Marimbás no Posto 6 – informalmente através de seu porteiro. As nossas corridas diárias e matinais eram pelas orlas e parques distribuindo folhetos e fichas de inscrições da corrida às pessoas que faziam o ‘cooper’. Muitas vezes. parávamos para conversar com as pessoas sobre a corrida. Como atleta do Fluminense, convidei meus colegas de equipe para participarem da prova e aqueles que não podiam correr, designei uma responsabilidade na organização. Levamos em mãos o
press release do evento ao departamento de esporte dos jornais O GLOBO, o Jornal do Brasil, o Jornal dos Sports, como também o da Rede Globo solicitando a divulgação do evento e a cobertura no dia. A midia impressa publicou no dia seguinte e a TV GLOBO colocou no ar no mesmo dia.
Realização
New Balance novamente cedeu material para premiação, como também camisetas e bonés para a organização. Introduzimos no Brasil os números de corrida plastificados - os mais ‘sofisticados’ da época. A premiação foi dada em seis categorias – aberta, veterano e juvenil tanto no masculino como no feminino. Às 11 hs. do dia 9 de Julho de 1978, em frente ao Clube Marimbás, no Posto 6 em Copacabana, foi dada a largada para os 500 participantes da I Corrida de Copacabana. O percurso de 8km seguia a orla da praia até o Leme e retornava pela mesma pista até a chegada no mesmo local da largada.
O tempo colaborou, a imprensa – O GLOBO e O JORNAL DO BRASIL - deu cobertura e os espectadores apoiaram e aplaudiram os corredores.
A I Corrida de Copacabana despertou um crescente interesse em corridas e logo no primeiro ano foi realizada a Corrida Internacional Leblon-Leme, a I Meia Maratona, a I Maratona Internacional do Rio de Janeiro, a Corrida das Paineiras e a Corrida das Crianças. Outras corridas de relevância se seguiram, como a primeira corrida feminina na América Latina - a Corrida Avon - e a Corrida do Século com o dr. Kenneth Cooper. O movimento se expandiu do Rio para São Paulo, Brasília e outros estados.
A I Corrida de Copacabana deu inicio ao um movimento exponencial do esporte congregando adeptos de todas as classes socioeconômicas que desafiaram barreiras físicas, sociais, culturais e políticas, deixando uma relevante marca na história das corridas de rua.